Uma das ideias mais perigosas que existe é a de dualidade.
Soa místico. Yin Yang, bem versus
mal, ordem versus caos, herói versus vilão, sim e não, corpo e alma, Deus
versus diabo, 1 e zero. Praticamente toda nossa cultura baseia-se no número
dois. Dois é o número básico do conflito. O mínimo de pessoas necessárias para
que haja uma briga, um desentendimento, um acasalamento e uma terceira vida.
Somos atraídos pela dualidade como mariposas por uma lâmpada. E,
invariavelmente, algo morre se seguimos cegamente este inexplicável instinto.
Nossa submissão à dualidade é a
prova mais concreta de que ainda não deixamos de ser macacos. Nossos dez mil
anos de História registrada são um espirro passageiro se comparados aos bilhões
de anos do universo, e nem sequer sabemos se existia algo antes disso. Quantos
erros básicos são cometidos pela ideia de que para tudo há um oposto. Quanto
sofrimento desnecessário, quanto tempo desperdiçado em cima da ideia de que os
caminhos se bifurcam. Talvez esta seja a analogia mais destrutiva de todas.
Seu grande poder danoso vem do fato de que esta tendência, quiçá ancestral, pode e é utilizada o tempo todo para induzir as pessoas ao erro. Nossa paixão pela dualidade é forte. Por exemplo, se você ligar a televisão e resolver assistir a um jogo qualquer, tênis, futebol, qualquer coisa, bastarão poucos minutos de audiência para que você escolha um dos lados pra torcer. Sem qualquer informação mais precisa que uma vaga simpatia, de repente você está num dos lados da questão. Acontece quando você escolhe um time de futebol pra torcer por. Mesmo não fazendo o menor sentido racional, você veste uma camisa e chega mesmo a píncaros de atacar os adversários, ignorando o fato óbvio de que sem adversários, não há o esporte.
Seu grande poder danoso vem do fato de que esta tendência, quiçá ancestral, pode e é utilizada o tempo todo para induzir as pessoas ao erro. Nossa paixão pela dualidade é forte. Por exemplo, se você ligar a televisão e resolver assistir a um jogo qualquer, tênis, futebol, qualquer coisa, bastarão poucos minutos de audiência para que você escolha um dos lados pra torcer. Sem qualquer informação mais precisa que uma vaga simpatia, de repente você está num dos lados da questão. Acontece quando você escolhe um time de futebol pra torcer por. Mesmo não fazendo o menor sentido racional, você veste uma camisa e chega mesmo a píncaros de atacar os adversários, ignorando o fato óbvio de que sem adversários, não há o esporte.
Talvez o exemplo mais premente
atualmente seja nosso cenário político, onde as tropas ensandecidas meneiam
para a esquerda ou para a direita. Quem inventou esta distinção, se era sua
intenção facilitar o arrebanhamento das massas humanas, merece um prêmio Nobel.
Ao associar posicionamentos políticos a uma característica inerentemente dual,
uma vez que somos bilateralmente simétricos, um hábil manipulador consegue
restringir um universo de possibilidades em apenas dois campos, não
necessitando nada mais do que retórica. Você é a favor de que o Estado seja
responsável pela manutenção da saúde dos cidadãos? Então você é de esquerda. Se
é a favor da livre iniciativa e da propriedade privada, você é de direita. E
obviamente, se você tem algumas ideias associadas a um lado e outras a outro,
espertamente o classificam como “centro”, como se isso fizesse algum sentido
real.
Claro, a ideia de que haja um
centro traz embutida a saudável noção de que, na verdade, trata-se não de um
dualismo verdadeiro, mas de um espectro de possibilidades. Infelizmente, a
maioria acaba percebendo este aspecto apenas superficialmente, enquanto
insistem em quantificar o imensurável. Ou é possível alguém ser 36% direita e
64% esquerda? Isso é falácia, é um pobre recurso ao qual recorrem institutos de
pesquisa para tentar transformar o qualitativo em quantitativo. Mas o que pode ser
uma ferramenta útil para a estatística corre o risco de cegar o indivíduo para
o mais óbvio: o espectro existe mesmo, mas ele não fica entre dois
extremos: o espectro é tridimensional, e espalha-se por várias direções.
Uma pesquisa afirma que a vasta
maioria das pessoas que acessam pornografia com transgêneros são “homens
heterossexuais”, e muita gente fica espantada. Por que isso? Porque embutida
naquela segunda palavra – a verdadeira razão da surpresa – está a ideia de que
são duas as orientações sexuais: heterossexual e homossexual. E dá-lhe
discussões nonsense como “pra mim,
quem come travesti não é gay.” Nossa parca capacidade linguística carece de
meios para classificar a realidade com a devida propriedade e, ao invés de
entendermos que rótulos são meros veículos de facilitação do entendimento desta,
tentamos em vão encaixá-la nos termos. Tentamos com todas as nossas forças
fazer a baleia azul caber no aquário simplesmente porque a vastidão do oceano é
assustadora demais. Queremos que a cauda abane o cachorro.
Esta é a parte mais difícil de
ser humano: entender todos os lados de uma questão. Envolve muita análise
crítica, queima muitos neurotransmissores. Pensar é um ato muito mais difícil
do que parece.
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